Ainda hoje, muitas ideias machistas persistem, como o medo de ver uma mulher como CEO. Esses pensamentos refletem um machismo estrutural, que nasce de estereótipos antigos sobre o que homens e mulheres podem ou não fazer. Existe uma visão que associa a liderança a características tradicionalmente vistas como masculinas, como ser assertivo e racional, enquanto coloca as mulheres em papéis de cuidado e apoio, julgando essas qualidades como "menos adequadas" para cargos de decisão.
Foto de Mark König na Unsplash
A crença de que mulheres são "menos aptas" para liderar não surge do nada. Ela é fruto de uma educação que molda comportamentos diferentes para meninos e meninas desde cedo. As meninas são muitas vezes incentivadas a ser mais cuidadosas, enquanto os meninos são encorajados a liderar e competir. Isso se reflete no ambiente de trabalho, onde os homens costumam ser vistos como líderes naturais, e as mulheres, como secundárias ou cuidadoras.
Além disso, ainda há a expectativa de que as mulheres equilibrem o trabalho com as responsabilidades familiares. A ideia de que o lugar "natural" da mulher é em casa acaba desqualificando suas aspirações no mundo corporativo. Mesmo quando as mulheres rompem essas barreiras, enfrentam desafios e críticas que perpetuam a ideia de que a liderança feminina é uma exceção.
Um depoimento pessoal: o impacto sobre uma mulher lésbica
Sendo uma mulher lésbica, que já enfrenta preconceitos pela sua orientação sexual, viver em um ambiente corporativo que reforça esses padrões é ainda mais difícil. Eu mesma já passei por situações em que minha voz foi silenciada ou desconsiderada, fui ignorada para promoções e até exposta a comentários preconceituosos, diretos ou indiretos. Esses episódios não só causam um impacto emocional, mas também psicológico, gerando insegurança, síndrome do impostor e uma constante sensação de não pertencimento.
Ao longo do tempo, percebi que essa exclusão pode levar a dois caminhos: a fuga ou a adaptação. Muitas vezes, escondemos partes de quem somos para sobreviver em um ambiente que não nos aceita por completo. Isso afeta tanto o desenvolvimento profissional quanto o pessoal, e a falta de oportunidades limita nosso crescimento, não por falta de talento, mas pelas barreiras invisíveis que nos são impostas. Hoje, estou mais atenta a esses padrões e mais preparada para enfrentá-los.
As marcas deixadas nas mulheres
O machismo estrutural deixa marcas profundas. Muitas mulheres acabam questionando sua própria capacidade, depois de anos sendo subestimadas. Isso pode fazer com que hesitem em expressar suas opiniões, tenham medo de assumir novos desafios ou até desistam de seus sonhos.
Essa constante desvalorização pode causar exaustão mental e emocional, levando a burnout, baixa autoestima e, em casos mais graves, problemas como ansiedade e depressão. No ambiente de trabalho, essa pressão contínua acaba prejudicando o desempenho e o avanço profissional das mulheres.
O papel dos homens
Os homens também são impactados por essa estrutura, mesmo que de maneira diferente. O machismo empobrece o ambiente de trabalho ao impedir que talentos diversos floresçam. Para mudar isso, os homens precisam reconhecer seus privilégios e ouvir as experiências das mulheres. Permanecer em silêncio diante de comentários preconceituosos ou atitudes excludentes só perpetua o problema.
É importante que os homens se tornem aliados nessa luta, comprometendo-se a agir ativamente para criar um espaço mais inclusivo. Isso começa com pequenas mudanças no dia a dia e um esforço contínuo para aprender e ajustar comportamentos. Se você é homem e nunca passou por essas experiências, entenda que esse é um privilégio. Isso não desqualifica a dor de quem enfrenta essas situações. O papel de quem tem esse privilégio é ouvir, entender e agir para mudar a estrutura, em vez de invalidar o que não vivenciou.
Um recado para as mulheres
Para as mulheres: continuem. Continuem a desafiar o status quo, a questionar e a ocupar os espaços que historicamente foram negados a vocês. O caminho pode ser difícil, mas lembrem-se de que vocês são agentes de transformação, tanto para si mesmas quanto para as outras que virão depois.
Quando se sentirem cansadas, olhem para suas conquistas e para as mulheres que estão ao seu lado, caminhando com vocês. O mundo pode demorar a mudar, mas a mudança começa em cada ato de resistência, em cada "não" que vocês dizem ao machismo e em cada vez que vocês acreditam no seu próprio valor. Apoiem-se mutuamente, porque juntas, somos mais fortes.
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