No mundo dos produtos digitais, muito se fala sobre inovação, design centrado no usuário e metodologias ágeis. Mas, já parou para pensar no impacto cultural que nossos produtos têm? Vamos explorar essa ideia sob uma lente menos usual, mas sem perder a leveza: a hegemonia e a indústria cultural.
Foto de Igor Omilaev na Unsplash
Hegemonia, em termos simples, é a influência dominante de uma classe ou grupo sobre outros. Essa influência acontece de forma sutil, através de valores e normas culturais que consideramos “naturais”. Não é uma imposição pela força, mas sim um consenso que permeia a sociedade, moldando nossos pensamentos e comportamentos de maneira quase imperceptível. Quando refletimos sobre a hegemonia no contexto dos produtos digitais, percebemos que estamos falando sobre mais do que apenas tecnologia e funcionalidade; estamos falando sobre cultura.
A ideia de indústria cultural sugere que, na busca por eficiência e lucro, a cultura se torna um produto padronizado. Pense em como certos formatos de programas de TV ou estilos de posts nas redes sociais se repetem. Isso não é coincidência; é uma estratégia para capturar a maior audiência possível. A televisão sempre foi um exemplo claro disso: programas padronizados, interrompidos por comerciais cuidadosamente calculados para manter o público engajado. Na internet, vemos algo parecido, mas com um toque a mais: a personalização. Algoritmos sofisticados selecionam o conteúdo que acham que você vai gostar, criando uma bolha de conforto e repetição.
Os gerentes de produto (PMs) estão na linha de frente dessa dinâmica. Ao desenvolver produtos, precisamos entender que estamos moldando mais do que apenas experiências de usuário; estamos influenciando a cultura. Seja um aplicativo de redes sociais ou uma plataforma de streaming, o que criamos e como promovemos impacta a maneira como as pessoas se comunicam, consomem conteúdo e até percebem o mundo. A televisão, com seus programas formatados e intercalados por comerciais, exemplifica a indústria cultural em ação. No entanto, a internet adiciona uma camada extra de complexidade com a personalização, onde algoritmos moldam o que vemos e consumimos, reforçando padrões culturais de forma ainda mais sutil.
Aqui está a provocação: como PMs, estamos realmente inovando ou apenas seguindo fórmulas testadas? Estamos criando produtos que diversificam a experiência cultural ou reforçando padrões existentes? É um equilíbrio delicado entre atender às expectativas do usuário e desafiar essas mesmas expectativas para oferecer algo novo e enriquecedor. Considerar o impacto cultural de nossos produtos não é apenas uma questão de ética, mas também de inovação verdadeira. Inovação que não só busca o novo, mas que também faz a diferença, proporcionando experiências que enriquecem a sociedade de maneira significativa.
Então, da próxima vez que estiver desenvolvendo um produto, pense além das métricas tradicionais de sucesso. Considere o impacto cultural e como seu produto pode influenciar a sociedade de maneira mais ampla. Afinal, inovação verdadeira não é apenas sobre fazer algo novo, mas sobre fazer algo que faça a diferença.
Este é um convite para refletir e, quem sabe, inspirar um novo olhar sobre o papel que desempenhamos como criadores e gestores de produtos. Não precisamos mergulhar profundamente em teorias sociológicas para entender que, como PMs, temos a oportunidade – e a responsabilidade – de moldar o futuro de forma mais consciente e intencional. Esperamos que esta reflexão sobre o papel dos produtos na formação da cultura e como podemos, de forma leve e inovadora, contribuir para um mundo mais diversificado e interessante.
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